Tuesday, January 10, 2006

Amálgama de ferros retorcidos o meu pensamento
Cai em ferrugem dos meus olhos cegos pela asfixia
Estou em limalhas pelo chão que espalha o vento
E a minha alma é como um poço que se esvazia

Cada passo que dou esconde um prenúncio de queda
Estou a ver-me enquanto caio parado a meio do abismo
Só na sombra de um corpo que parece feito de pedra
Há na precipitação a antevisão das réplicas de um sismo

Imóvel e no entanto tudo se move à minha volta
Estou sentado mas estou a ver o meu corpo desabar
Será que sofro ou será que a dor que me revolta
É a mesma dor que o meu sofrimento pode matar

Lúcifer anjo demónio luz escuridão morte redenção
Serei este corpo interrompido na vertigem da falésia
E o outro que traz em si a cratera que será no chão
Se não me distingo na meteórica espiral da amnésia


Miguel Gião

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