Monday, January 16, 2006

Marcos 5:9

"E Jesus perguntou-lhe: Qual é o teu nome? Ele Respondeu: Legião é o meu nome, porque nós somos muitos."

Tuesday, January 10, 2006

"Junto à modesta flor que o próprio musgo insombra,
O amor tornado em planta, o affecto inanimado!
As heras são da ruína; as violetas da sombra…
É sombra o meu futuro! é ruína o meu passado!"


Guilherme Braga, "Heras e Violetas"

Nas horas mortas dos dias felizes
Esqueci que a felicidade
É a aparência ingénua
Nascida da ilusão desejada
E que a vida nasce da mentira
Que a nós próprios contamos
Para nos sermos
Quando o não somos

Miguel Gião

Tenho a altura do meu horizonte
Mesmo que fosse um pouco mais alto
Nunca saberia o que se esconde
Para lá do vértice da última vaga


Miguel Gião

Amálgama de ferros retorcidos o meu pensamento
Cai em ferrugem dos meus olhos cegos pela asfixia
Estou em limalhas pelo chão que espalha o vento
E a minha alma é como um poço que se esvazia

Cada passo que dou esconde um prenúncio de queda
Estou a ver-me enquanto caio parado a meio do abismo
Só na sombra de um corpo que parece feito de pedra
Há na precipitação a antevisão das réplicas de um sismo

Imóvel e no entanto tudo se move à minha volta
Estou sentado mas estou a ver o meu corpo desabar
Será que sofro ou será que a dor que me revolta
É a mesma dor que o meu sofrimento pode matar

Lúcifer anjo demónio luz escuridão morte redenção
Serei este corpo interrompido na vertigem da falésia
E o outro que traz em si a cratera que será no chão
Se não me distingo na meteórica espiral da amnésia


Miguel Gião

No silêncio estagnado dos nenúfares
Flutuam vozes de náufragos
Ouço-as nítidas à superfície do lodo
Quando a lua se afunda nos charcos

Miguel Gião